Mulheres ocidentais e negócios na Arábia Saudita

Mulheres ocidentais e negócios na Arábia Saudita...

7/4/2020

Uma das questões que mais me é colocada por clientes femininas, é a questão sobre o comportamento esperado para uma mulher ocidental que se desloca ao Médio Oriente para negociações. Entre essas questões há uma que é colocada muitas vezes: "como mulher ocidental, devo cobrir a cabeça quando visito países do Médio Oriente?"

A resposta é clara: sim, e não!

Image by Ratna Fitry from Pixabay

Por um lado, no Kuwait, Bahrain, Qatar, Emirados Árabes e Oman, não é necessário, por outro lado, na Arábia Saudita uma mulher deve cobrir a cabeça sim. Na Arábia Saudita, apesar de não ser ilegal para as estrangeiras andar sem lenço na cabeça, o chamado "hijab", uma mulher, mesmo que ocidental, não só deve usar um lenço, mas também uma "abaia" por cima das suas roupas quando sair à rua. Como dito, não é legalmente requerido, sendo que esse requisito deixou de existir recentemente para mulheres estrangeiras, mas aconselho vivamente às senhoras, quando visitam a Arábia Saudita, a seguir uma forma mais tradicional de se vestir para evitar problemas.

Ficando pela Arábia Saudita, uma senhora, para além de ter que dar a sua atenção à maneira de vestir, encontra outras questões que requerem igualmente a sua atenção.

Use o tradicional lenço na cabeça. O Lenço deve cobrir todo o cabelo e o pescoço. Se tiver algum problema com isso, pergunte a uma senhora árabe, por exemplo, no hotel e ela mostrará como se faz.
Use uma "Abaia", uma cobertura tradicional preta, que pode comprar em qualquer "suk" (mercado) ou mesmo numa das lojas do hotel. Não se deve ver os tornozelos, nem decote, só as mãos e a cara podem estar visiveis.
Não use verniz vermelho, opte por transparente ou branco
Pode-se maquilhar, mas a maquilhagem deve sublinhar o tipo e não deve ser pesada, e não pinte os olhos, rímel é no entanto aceite
Não comprimente homens com a mão, faça uma pequena vénia e diga "...nice to meet you...".
Não se esqueça, tudo é segregado, desde os cabeleireiros, passando pelas piscinas e ginásios, até aos restaurantes, lojas e transportes. É por isso importante, organizar o transporte com antecedência, para que não chegue atrasada.
Como no caso do transporte, tenha em consideração que a mobilidade duma mulher fica bastante afectada, já que tudo é segregado, pelo que uma estadia na Arábia Saudita requer um bom planeamento, particularmente para uma mulher.
Restaurantes são segregados, havendo duas áreas distintas, uma para "família", o chamado "family room" e outra área para homens, o chamado "male room". O "family room", é, como o nome diz, para famílias, casais, ou então para mulheres sozinhas ou em grupo e mulheres com crianças. Já homens sem acompanhamento da esposa, deve permanecer no "male room".
Se estiver numa shopping ou na rua e necessitar de informações, não pergunte a um homem, pergunte a uma mulher.
Como já mencionado várias vezes, há cinco orações por dia, que na Arábia Saudita, são obrigatórias. Durante a oração, tudo fecha e pessoas que não oram ou que são de outra religião, devem recolher às suas casas, quartos ou escritórios. Isso deve ser levado em conta antes de sair à rua.
A Arábia Saudita, tem, a nível mundial, umas das taxas mais baixas de trabalho feminino. Então, pode acontecer que não exista uma casa de banho para senhoras no escritórios, o que, naturalmente, constitui um problema, tanto mais, porque, como mulher, não deve perguntar a um homem pela casa de banho. Isso pode ser mesmo um grande problema, que tem que ser enfrentado com boa preparação, ou então de forma criativa, como no caso de Nancy J. Ruddy, co-fundadora da "CetraRuddy", uma empresa de arquitectura nova iorquina. Numa visita de negócios à Arábia Saudita, ela reparou que não havia casas de banho para senhoras na empresa que ela visitou, mas que todos os executivos tinha uma casa de banho privativa no seu escritório. Então ela pediu para colocar uma placa "fora de serviço" na porta de umas das casas de banho, usando então essa casa de banho "fora de serviço", ao mesmo tempo que evitava ter que perguntar a um dos seus anfitriões masculinos por uma casa de banho.
https://www.nytimes.com/2015/02/03/business/international/businesswomen-navigate-traditions-in-saudi-arabia.html).

Image by Ebrahim Amiri from Pixabay

Os restante países do Médio Oriente, tendem a ser bem mais liberais e mulheres a trabalharem no mais variados empregos, é algo normal, pelo que é bem menos problemático para qualquer mulher ocidental. No entanto, há que ter em conta que pode haver grandes diferenças entre os grandes centros urbanos desses países e lugares mais remotos, onde tendem a ser mais conservadores. Se for alguma vez convidada para um lugar mais remoto ou para uma tenda de "beduínos" é melhor uma mulher vestir-se de forma mais conservadora com um lenço cobrindo a cabeça e o pescoço e não deixar à mostra qualquer cabelo.

No entanto, um dos aspectos mais importantes no mundo dos negócios, e não só, é como se é visto pelo outro lado oposto. Isso é outra questão que senhoras muitas vezes me colocam, perguntando se os homens nos países árabes respeitam uma profissional feminina. Sendo a sociedade árabe, e particularmente a sociedade saudita, uma sociedade masculina, essa questão é compreensível, afinal, ninguém quer negociar com alguém que não a respeita como profissional.

No entanto, a questão é bem mais complexa. Sendo a sociedade árabe uma sociedade conservadora, com uma visão tradicional dos papeis a serem desempenhados por cada um dos géneros, isso faz com que abunde aquele espírito masculino como protector das mulheres, isso faz com que uma senhora seja tratada pelos seus anfitriões masculinos de forma delicadíssima, pelo que ela nunca irá ser tratada com desrespeito ou desdém, aliás, nem um não directo ela vai ouvir dos parceiros. Mesmo assim, isso não quer dizer que ela seja levada a sério como profissional, mas a sociedade árabe fundamenta-se, na área do negócio e na vida, noutros valores, para além da masculinidade. Um árabe, respeita profundamente idade e experiência, respeita igualmente hierarquias tradicionais e respeita inquestionável profissionalismo. São esses os valores que granjeiam a uma uma mulher respeito profissional pelos seus pares masculinos. Uma mulher com a autoridade que competência confere, vai ser levada a sério pelos seus pares masculinos árabes. Se ela poder aliar a isso a idade (ser mãe ou, melhor, avó, é uma vantagem) e a hierarquia (ser a dona da sua empresa, por exemplo), vai ver como ela é levada a sério e tratada com grande respeito.

Sim, uma mulher nos países árabes, tem, para ter sucesso no negócio, que ter o seu pai por detrás dela, ou então tem que ser bem melhor que os seus colegas masculinos. Isso é um facto, no entanto, não é muito diferente dos tempos, não muito remotos, no mundo ocidental.

A continuar...

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